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A Fecomercio (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo) do Espírito Santo decidiu testar uma alternativa de escala no varejo capixaba, a fim de diminuir o déficit de 20% de mão de obra no setor. Entre março e outubro de 2026, o varejo alimentar e as lojas de construção do estado vão fechar as portas todo domingo, conforme convenção coletiva de trabalho assinada em novembro. No acordo, também ficou definido um aumento salarial de 7%, acima da inflação.

"As pessoas buscam flexibilização, não querem trabalhar aos fins de semana e preferem um emprego perto de casa, para não perderem tempo demais no trajeto", diz José Carlos Bergamin, vice-presidente da Fecomercio. "Os modelos instituídos de carga horária precisam ser rediscutidos", afirma.

Daniel Sakamoto, gerente executivo da CNDL (Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas), destaca que o varejo em todo o Brasil tem dificuldade não só de contratar, mas de manter colaboradores. A Abras (Associação Brasileira de Supermercados) tem 357 mil vagas em aberto. Na rede Supermercados BH, por exemplo, a quarta maior do varejo alimentar do país, que emprega 44 mil pessoas, existem 4.000 vagas em aberto, o que já limita a velocidade de abertura de lojas. Já na Plurix, 11ª rede de supermercados do ranking, a rotatividade é de 50%.

O trabalhador tem muita opção de vaga disponível e pode escolher o que for melhor para ele", diz Sakamoto. As empresas, por sua vez, precisam manter permanentemente processos de seleção e treinamento. "Isso compromete a produtividade", afirma Sakamoto, lembrando que hoje as pessoas buscam condições mais flexíveis de trabalho, algo que vai de encontro à escala puxada do varejo: são seis dias trabalhados e um de folga, com trabalho aos feriados e fins de semana, a escala 6x1.

No varejo capixaba, a convenção coletiva determinou que as empresas façam ajustes na escala para permitir as folgas aos domingos, de modo a não extrapolar 44 horas semanais, com máximo 48 horas considerando horas extras emdash;se elas existirem, deverão ser compensadas dentro de 120 dias ou, então, remuneradas, com acréscimo de 50% sobre a hora normal.

Para Bergamin, também dono da rede Konyk, de moda jovem masculina, muitas lojas ficam abertas por longos períodos sem necessidade, especialmente depois da pandemia, quando cresceu a venda online.

"Pode haver uma redução de custos das lojas e uma melhora na qualidade de vida dos trabalhadores. É isso que será testado no ano que vem". O acordo capixaba não vale para as lojas de shopping.

SETOR DISCUTE SE SHOPPING DEVE FUNCIONAR ATÉ AS 22H

Mas também do ponto de vista dos negócios, é preciso rever a escala nos centros de compras. "Existe uma grande discussão se o shopping deveria funcionar até as 10h da noite, assim como abrir aos domingos", afirma Alexandre Birman, CEO do grupo Azzas 2154 (dono de marcas como Arezzo, Annacapri, Vans, Hering e Reserva).

Segundo Birman, havia uma premissa no varejo de que, após as 17h, a venda dobrava em relação ao restante do dia. "Mas isso não está mais acontecendo", diz ele, que acredita que as lojas poderiam abrir mais cedo. "Muitas mulheres, principalmente da classe A, vão à academia e depois querem aproveitar e passar no shopping para resolver alguma questão, fazer compras. Mas as lojas ainda estão fechadas". Por outro lado, diz, há uma venda cada vez maior no horário do almoço.

Na opinião de Jorge Gonçalves Filho, presidente do IDV (Instituto para Desenvolvimento do Varejo), que reúne grandes redes do setor, não tem como fugir da "matemática". "Se mudar escala e jornada, vai aumentar o custo", afirma, lembrando que quem deve pagar a conta é o consumidor.

A Heamp;M, que inaugurou sua primeira loja no Brasil em agosto, no entanto, é um exemplo de varejista que adotou a escala 5x2 para seus funcionários.

Gonçalves Filho afirma que o setor gostaria de remunerar melhor os colaboradores, mas sente a carga tributária. "A linha de custos de despesas de pessoal é uma das mais elevadas: para cada R$ 1 que eu pago para o meu colaborador, custa mais R$ 1 para a empresa", diz o executivo, contrário à ideia de fechar o varejo aos domingos. "Os vendedores são heróis, ficam lá de pé, com um sorriso nos lábios. Ninguém gosta [de trabalhar sábado e domingo]."

O economista Leandro Rosadas, especialista em gestão de supermercados, concorda. "Ninguém quer ser caixa ou repositor de mercado", afirma. Mas ele acredita que existam alternativas para que os varejistas aumentem salários para atrair mão de obra e compensem este custo. Ganhos de eficiência em setores como consumo de energia e controle de embalagens, além de renegociar contratos de aluguel e de preços com a indústria, são exemplos.

Para Rosadas, o uso de tecnologia, como a implantação de self-checkouts com vendas pelo WhatsApp com IA generativa, é um caminho sem volta para o varejo em geral a fim de compensar em parte a falta de profissionais. "Mas tem coisas que a IA não faz, como repor prateleira ou cortar uma picanha. Nestes casos, é preciso mesmo aumentar o salário."

Fonte/Veículo: Folha de S.Paulo

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