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Em um bate-papo exclusivo com o Estradão, Marcelo Gallao, diretor de desenvolvimento da Scania Brasil, fez um panorama realista sobre os caminhos das tecnologias alternativas ao diesel no transporte de cargas pesado no País. Segundo o executivo, a viabilidade de novas soluções energéticas no Brasil passa diretamente pela infraestrutura existente e pelas características regionais de cada mercado.

Além disso, Gallao aponta que hoje, entre as alternativas disponíveis, o gás natural veicular (GNV) e o biometano se destacam em regiões próximas a centros urbanos ou áreas agrícolas, como granjas, usinas sucroalcooleiras e aterros sanitários. Já o biodiesel ganha força em áreas produtoras de grãos e esmagadoras de soja.

Crescente presença do gás

Desde 2019, quando a Scania lançou sua linha a gás, o cenário mudou significativamente. eldquo;Na época, era como pregar no deserto. Porém, hoje, temos uma rede de postos estruturada, corredores dedicados e mais de 1.500 caminhões a gás vendidos, com previsão de ultrapassar 2.000 unidades até o fim deste anoerdquo;, diz.

Ademais, sobre o transporte elétrico, Gallao reconhece seu potencial energético superior. Mas pondera que o grande desafio está na distribuição de energia no Brasil, que exige investimentos bilionários e de longo prazo.
Era do híbrido vai chegar em pesados

Dessa forma, para ele, nos próximos anos, o elétrico ganhará espaço em nichos específicos. Como entregas urbanas e operações de curta distância em áreas metropolitanas. Enquanto veículos híbridos e tecnologias como o REx (Range Extender) podem ser soluções intermediárias.

Nesse sentido, a Scania apresentou, em parceria com a DHL na Europa, um modelo da gama G elétrico com tração 6x2, Mas transformado em veículo elétrico de alcance estendido (EREV, na sigla em inglês). O que na prática, trata-se de um caminhão híbrido.

Seja como for, a conclusão de Gallao é que o futuro do transporte vai ser diversificado e regionalizado. Ou seja, com tecnologias convivendo de acordo com a infraestrutura disponível e as demandas locais.

eldquo;O mundo inteiro é heterogêneo. E, no Brasil, não será diferente. Vamos ter gás, biodiesel, elétrico e híbrido, cada um ocupando seu espaçoerdquo;, completa.

O futuro será regionalizado

Dentro da realidade brasileira, considerando infraestrutura, viabilidade econômica e ambiental, quais são hoje as alternativas reais ao diesel?

Marcelo Gallao: Olhando para o Brasil de forma pragmática e realista, temos duas alternativas principais. Ou seja, o gás natural veicular e o biodiesel. Dentro do gás, o biometano se destaca, principalmente em regiões próximas a centros urbanos ou onde há granjas, propriedades agrícolas e aterros sanitários.

Nessas áreas, a produção de biometano já tem maturidade. Todavia, o biodiesel ganha força em regiões produtoras de grãos, como o Mato Grosso, onde há esmagadoras de soja e produção local de biodiesel. O País é muito heterogêneo. Então, o que funciona para o Sul e Sudeste não necessariamente funciona para o Centro-Oeste ou Norte. Cada região vai se adaptar com a alternativa mais viável.

Evolução da infraestrutura

Como você avalia a evolução da infraestrutura para o gás no Brasil, de 2019 para cá?

Marcelo Gallao: Em 2019, falar de caminhão a gás no Brasil era quase pregar no deserto. Em outras palavras, existia pouca infraestrutura, poucos postos, e um mercado cético. Todavia, de lá pra cá, a tecnologia se provou viável, e trabalhamos em parceria com a rede de postos para criar corredores de abastecimento. Hoje, temos um cenário bem mais maduro.

Existem postos de alta vazão em corredores estratégicos, ligando o Sul ao Nordeste, com uma média de um posto a cada 400 km. Cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Seropédica, e regiões de Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul têm projetos robustos de biometano. Dessa forma, até o fim de 2025, devemos ultrapassar 2.000 caminhões a gás vendidos. Esse número mostra claramente a maturidade da solução.

E em relação ao transporte elétrico? Qual é a realidade brasileira nesse segmento?

Marcelo Gallao: O elétrico tem uma eficiência energética imbatível. Porém, o grande desafio está na infraestrutura de distribuição de energia elétrica. Não adianta só gerar mais energia, é preciso levá-la até os pontos de consumo. E isso exige investimentos bilionários, de longo prazo, que não são viáveis apenas pela iniciativa privada. Esse desafio não é só brasileiro. Europa, Ásia e América do Norte enfrentam o mesmo problema.

Mas no Brasil, nos próximos cinco anos, veremos elétricos principalmente em nichos muito específicos. Como distribuição urbana, bebidas, última milha. Ou seja, onde a autonomia de 200 a 250 km atende bem. Fora desses nichos, não há ainda viabilidade para transporte pesado elétrico em larga escala.

Híbridos em veículos pesados

Os híbridos podem ser uma solução de transição viável?

Marcelo Gallao: Sim, principalmente os híbridos leves e médios, que combinam um motor a combustão com um módulo elétrico. Isso permite reduzir consumo e emissões sem depender exclusivamente da infraestrutura elétrica.

No Brasil, o híbrido flex a etanol faz ainda mais sentido, pois aproveita o etanol, que já é amplamente disponível. Essa tecnologia deve crescer bastante no transporte urbano e regional.

O que leva a crer que os caminhões pesados elétricos ainda são inviáveis para operações rodoviárias?

Marcelo Gallao: Hoje, sim. Os pesados elétricos são caros, com baterias que ainda ocupam muito espaço, são pesadas e limitam a autonomia. A solução que começa a ganhar espaço é o modelo eldquo;Rexerdquo;. Ou seja, um caminhão essencialmente elétrico, mas com um pequeno motor a combustão que funciona como gerador para recarregar as baterias em rota.

Ele aumenta a autonomia sem precisar de uma infraestrutura tão robusta de recarga. Na Europa, há discussões e legislações que obrigam caminhões a mudarem para modo zero emissão ao entrarem em áreas urbanas. Se isso vier a acontecer no Brasil, essa tecnologia pode ganhar espaço.

Todas as tecnologias vão conviver

Pensando no médio e longo prazo, qual deve ser o mix de tecnologias no transporte de carga brasileiro?

Marcelo Gallao: O Brasil não terá uma solução única. Vamos ter um mix regionalizado de tecnologias.

Dessa forma, em regiões próximas a geração de energia elétrica, o elétrico tende a dominar, principalmente no transporte urbano. Onde houver disponibilidade de gás natural ou biometano, essa será a alternativa mais competitiva. Em áreas agrícolas, o biodiesel será protagonista. E o diesel continuará sendo importante, especialmente em rotas longas, onde a infraestrutura de outras alternativas ainda não chega.

A grande certeza é que todas essas tecnologias vão coexistir. Dessa forma, nenhuma vai eliminar a outra. Cada uma atenderá sua aplicação específica, e isso não é um atraso, é a realidade de um País continental e heterogêneo como o nosso.

Fonte/Veículo: O Estado de São Paulo (Estradão)

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