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Hidrogênio verde: por que o Brasil tem muitos projetos anunciados, mas investimentos ficam no papel

Com uma matriz elétrica majoritariamente limpa, o Brasil vem há anos sendo apontado como um país com potencial para liderar globalmente a transição energética, oferecendo soluções para terceiros. Neste mês, um estudo do Net Zero Industrial Policy Lab (Laboratório de Políticas Industriais de Emissões Líquidas Zero), da Universidade Johns Hopkins, dos Estados Unidos, afirmou que o País eldquo;pode ser uma potência de primeira ordem no novo sistema energético mundial, ao lado da China, dos Estados Unidos e da Rússiaerdquo;. Empresas já anunciaram a intenção de instalar aqui usinas de hidrogênio verde, de produzir combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês), de restaurar floresta para vender crédito de carbono e de fabricar carros eletrificados. Enquanto alguns projetos avançam, outros sofrem para sair do papel endash; e nos últimos meses tem crescido em todo o mundo as discussões de que o preço dos produtos eldquo;verdeserdquo; podem ser caros demais para viabilizá-los. Para Marc Moutinho, líder no Brasil do Acelerador da Transição Industrial (ITA), o Brasil vai bem quando se trata de interesse das empresas em iniciativas de transição energética, dado que há dezenas de projetos anunciados. Quando se pensa em decisões finais de investimento, porém, o País já não se destaca tanto. eldquo;Projetos que começam a ser construídos, ainda não vimos muito no Brasil. Mas isso também é um desafio muito significativo em qualquer lugar do mundoerdquo;, diz Moutinho. O ITA é uma iniciativa global para catalisar a descarbonização dos setores industriais e de transporte. Lançado em dezembro de 2023, é financiado pela Bloomberg Philanthropies e pelos Emirados Árabes Unidos. Segundo o executivo do ITA, países como Estados Unidos, China, Alemanha e Suécia vinham se destacando na implementação dos projetos, principalmente devido ao apoio político e fiscal que receberam nos últimos anos. Moutinho acrescenta, no entanto, que, mais recentemente, Europa e EUA desaceleraram, enquanto Brasil e Índia começaram a anunciar mais iniciativas. eldquo;O equilíbrio pode estar mudando.erdquo; O ritmo de implementação dos projetos varia conforme o segmento. De forma geral, os de hidrogênio verde estão mais longe de se concretizar endash; há 50 memorandos de entendimento assinados para instalação de plantas no Brasil, mas as obras não foram iniciadas. Já os de crédito de carbono do tipo restauração de floresta estão caminhando, apesar de desafios como a necessidade de enormes volumes de investimento e questões fundiárias na Amazônia. Nesta semana, o Estadão mostra como projetos de eldquo;economia verdeerdquo; estão avançando no Brasil. Um dos entraves para os projetos saírem do papel é o preço de seus produtos. O hidrogênio verde, por exemplo, que pode ser uma solução para descarbonizar a siderurgia, precisaria ter um custo de US$ 2 o quilo para ser competitivo. Hoje, o valor é de cerca de US$ 6. eldquo;As pessoas esperavam que os custos diminuíssem mais rapidamente do que ocorreu. Agora estão pensando onde realmente faz sentido usá-loerdquo;, acrescenta Moutinho. Diretor da Aeamp;M Infra, braço da consultoria Alvarez eamp; Marsal especializado em infraestrutura, Filipe Bonaldo não vê os projetos em larga escala de hidrogênio verde no Brasil saírem do papel em menos de dois anos. Além do custo de produção, desafios regulatórios e tecnológicos dificultam a viabilização deles, diz. eldquo;Há ainda o fator Trump, que aumenta a insegurança macroeconômica.erdquo; Os especialistas citam, entre os entraves regulatórios, a atual concessão de isenção de imposto na importação de fertilizantes. Se houvesse tarifas, a produção de fertilizante eldquo;verdeerdquo; no País poderia até ser impulsionada. Para fabricar esse tipo de produto, o hidrogênio verde é usado como matéria-prima. Questionado sobre o assunto, o Ministério da Fazenda não se manifestou. Quanto mais cedo e de forma mais eficaz essas oportunidades regulatórias forem aproveitadas, mais rápido terão um impacto positivo nos projetos industriais eldquo;verdeserdquo;, acrescenta Moutinho. Segundo estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI), já foram anunciados para o Brasil projetos de hidrogênio verde que somam R$ 188,7 bilhões em investimentos. Desses, R$ 77,3 bilhões, ou seis projetos, deverão ter a decisão final de investimento tomada nesse ano, prevê a Associação Brasileira do Hidrogênio Verde (ABIHV). A empresa de energia solar e eólica Casa dos Ventos é uma das companhias que atuam para produzir hidrogênio verde para exportação, em um projeto de US$ 8,4 bilhões que deverá ser instalado no Porto do Pecém (CE). Em 2023, a empresa trabalhava com um cronograma de início das obras em 2025 e operações no último trimestre de 2027. Agora, a previsão é ter a decisão final de investimento no fim deste ano ou começo de 2026 e, aí, iniciar as obras. eldquo;Eu não diria que houve um atraso. Ali (em 2023), o momento de incerteza era maior. Agora, estamos com um prazo mais conservador. Amadurecemos e entendemos o projeto. Temos um plano definido. Estamos discutindo com bancos o financiamento. O projeto está avançando bemerdquo;, diz Lucas Araripe, diretor-executivo da Casa dos Ventos. De acordo com Araripe, para a decisão final de investimento ser positiva será preciso provar ao acionista da companhia (o grupo francês TotalEnergies) que o projeto no Brasil é competitivo na comparação com os de outras partes do mundo. eldquo;O grupo tem acesso a projetos ao redor de todo o mundo. Eles consomem hidrogênio e já assinaram dois contratos de compraerdquo;, diz o executivo, que diz acreditar que o projeto brasileiro terá bons preços dado que a energia eólica e solar (usadas na produção do hidrogênio) são competitivas. Outra planta prevista para ser instalada no Pecém, a da australiana Fortescue também deve ter sua decisão final de investimento tomada neste ano. A empresa, que tem um dos maiores projetos de hidrogênio verde para o Brasil, prevê injetar na unidade R$ 20 bilhões. Em 2023, o gerente da empresa no País, Luis Viga, afirmava que a unidade começaria a produzir em 2027. Questionado se o prazo se mantém, ele afirmou que o eldquo;cronograma do projeto é considerado estratégico e, por isso, a empresa não pode detalhá-loerdquo;. Segundo Viga, para a usina ser construída, é preciso que ela tenha eldquo;viabilidade econômica, social e ambiental, incluindo menores custos de energia e aumento da demanda global por hidrogênio verdeerdquo;. Hoje, a Fortescue está justamente estudando essa viabilidade. Para isso, trabalha no detalhamento da infraestrutura industrial, na definição dos sistemas de captação e tratamento de água e em ajustes nos modelos de armazenamento e distribuição da energia renovável que será usada na planta. Já a alemã Neuman eamp; Esser conseguiu colocar sua fábrica em operação no fim de novembro. Não se trata, porém, de uma usina, mas de uma planta que fabrica equipamentos para a produção de hidrogênio verde endash; a primeira unidade do gênero da companhia na América Latina. A fábrica, que recebeu um investimento de R$ 70 milhões, deveria ter sido inaugurada em abril do ano passado. eldquo;O cronograma atrasou porque tivemos problemas com a licença ambiental. Ela foi concedida, mas a burocracia atrasou. A Prefeitura (de Belo Horizonte) demorou mais que o previsto para conceder os papéiserdquo;, diz Marcelo Veneroso, diretor da empresa no Brasil. O executivo afirma que a planta já tem uma eldquo;carteira de pedidos robustaerdquo;, apesar de ainda não estar operando a plena capacidade. Segundo ele, até o ano passado, a companhia produzia sobretudo para projetos pilotos. Para 2025, a expectativa é que continuem trabalhando para usinas de hidrogênio de pequeno porte, mas que comecem a entrar projetos de escala comercial. eldquo;É natural as empresas primeiro testarem a tecnologia, afinarem os processos, antes de partirem para a fabricação mesmo. São investimentos consideráveis, as empresas estão tateando para ver onde podem entrar.erdquo; A presidente da Associação Brasileira do Hidrogênio Verde, Fernanda Delgado, destaca que, dada a complexidade da indústria de hidrogênio verde e o custo de instalação de uma usina, é natural que as decisões finais de investimento sejam tomadas com cautela. Segundo ela, com a aprovação, no ano passado, do arcabouço legal do setor endash; que inclusive estabeleceu a concessão de R$ 18,3 bilhões em incentivos fiscais entre 2028 e 2032 endash;, foi dado um passo no Brasil em direção à concretização das primeiras plantas de hidrogênio verde. Delgado, no entanto, afirma que ainda é necessária a expansão da rede de distribuição de energia no Nordeste, onde os projetos estão, ao menos por ora, concentrados. Isso porque a produção de hidrogênio verde demanda um grande volume de energia limpa. eldquo;Isso está em conversa com o governo federal e está avançandoerdquo;, diz.

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'Enquanto o mundo demandar petróleo, teremos que ter oferta', diz Silveira

O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, reforçou nesta terça-feira, 25, sua defesa da exploração de petróleo na Margem Equatorial. Para ele, o Brasil não pode deixar de produzir combustíveis fósseis. eldquo;Petróleo não é questão de oferta, mas de demanda. Enquanto o mundo demandar petróleo, teremos que ter ofertaerdquo;, disse. O ministro repetiu seu argumento de que os recursos do petróleo precisam financiar a transição energética. A defesa é a de que o Brasil não pode eldquo;pagar mais caroerdquo; nesse processo. Ele declarou ainda que o Ministério de Minas e Energia (MME) vai apresentar ao Congresso reforma do setor elétrico brasileiro, que estava sendo aguardada para 2024. O ministro também citou a possibilidade de fazer um eldquo;leilão de transição energéticaerdquo; para contratação de térmicas a biocombustível, a etanol. O leilão de reserva de capacidade já incluiu biocombustíveis. Parque térmico Silveira disse ainda que o Brasil precisa dobrar o seu parque térmico até 2034, ao falar da necessidade de fontes com segurança operativa. Para o leilão de reserva de capacidade previsto para junho, o governo vetou térmicas que utilizam como combustível carvão mineral, óleo diesel ou óleo combustível. Haverá a contratação de empreendimentos de geração termoelétrica a gás natural e a biocombustíveis. eldquo;É a térmica que segura nosso sistema nos momentos de pico (de demanda)erdquo;, disse na CEO Conference 2025, organizada pelo BTG Pactual. O ministro afirmou que a perspectiva para leilão de reserva de capacidade é boa, com eldquo;muita participaçãoerdquo;. eldquo;Já temos cadastrados 327 projetos, claro, é um cadastramento. Termina-se nos leilões com 40% a 50% disso, porque tem que ter garantia do gás e uma série de exigências. São mais de 70 GWerdquo;, disse Silveira. Segundo ele, possíveis rotas com a Argentina para escoamento de gás natural estão sendo estudadas. Ele declarou que já houve assinatura de acordo com o governo do país vizinho para a importação, pelo Brasil, de gás produzido por meio fraturamento hidráulico (fracking). Uma das vias em estudo é um duto que liga a Argentina até a termelétrica de Uruguaiana, no Rio Grande do Sul. O problema é a limitação na infraestrutura. Seria necessário um gasoduto de aproximadamente 594 quilômetros para poder ligar essa oferta da Argentina.

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Petróleo fecha em forte queda com preocupações sobre tarifas de Trump

Os preços do petróleo registraram forte queda nesta terça-feira (25), em linha com o mau humor no mercado hoje, após o índice de confiança do consumidor medido pelo Conference Board cair mais do que o esperado pelo mercado. Depois de outros dados da economia americana também virem mais fracos, isso alimentou a preocupação de que as políticas econômicas de Donald Trump podem prejudicar o crescimento econômico e a demanda por energia. No fechamento, o futuro do petróleo tipo Brent (referência mundial) com vencimento em abril teve queda de 2,50%, cotado a US$ 68,93 por barril, na Bolsa Intercontinental (ICE). Já o petróleo WTI (referência americana) caiu 2,50%, a US$ 73,02 por barril, na Bolsa Mercantil de Nova York (Nymex). A confiança do consumidor dos Estados Unidos medida pelo Conference Board em fevereiro registrou a queda mais acentuada em mais de três anos. Os comentários e surpresas constantes estão desgastando a confiança do investidor e do consumidor, diz Arlan Suderman da StoneX, em nota. eldquo;Nem investidores nem consumidores gostam de incerteza, e eles têm muita incerteza atualmenteerdquo;. Analistas do Goldman Sachs apontam que dados macroeconômicos decepcionaram na sexta-feira, com uma queda na confiança do consumidor, e uma nova cepa do coronavírus relatada. A pressão negativa continuou na segunda-feira com o anúncio de que o Iraque espera retomar fluxos de até 185 mil barris por dia do Curdistão, após uma pausa de quase dois anos devido a uma disputa de pagamentos. Além disso, foi reportado que o Sudão do Sul enviou seu primeiro carregamento de petróleo bruto de uma mistura do óleo desde que o oleoduto que a transportava do país sem saída para o mar foi danificado em fevereiro de 2024, durante a atual guerra civil no Sudão (anteriormente exportava cerca de 0,1 milhão de barris por dia).

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Governo prorroga suspensão das importações de biodiesel

O governo federal prorrogou por 180 dias o prazo do grupo de trabalho responsável por avaliar os impactos da importação de biodiesel e do Selo Biocombustível Social na mistura do diesel vendido no Brasil. Com isso, fica suspensa a possibilidade de importação do biocombustível até agosto deste ano. Se até lá a decisão for mantida, serão praticamente dois anos da proibição. O MME já havia prorrogado o prazo até março deste ano. A importação seria possível por uma reforma iniciada no governo de Jair Bolsonaro (PL), com alterações nas regras de comercialização. Em novembro de 2023, já no governo Lula (PT), a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) regulamentou a abertura para o mercado externo. Logo na sequência, em dezembro de 2023, o CNPE suspendeu o aval à importação e criou o grupo de trabalho para avaliar os impactos da medida. Atendeu os produtores nacionais de biodiesel, que mantiveram a reserva do mercado para si, a partir da mistura obrigatória no diesel. Com a regulamentação da ANP, seria possível importar até 20% da demanda cativa por biodiesel no Brasil. Com a mistura em 14%, as distribuidoras tiveram uma meta de contratação de 1,1 bilhão de litros de biodiesel no primeiro bimestre deste ano. Os 80% restantes são assegurados pelo Selo Biocombustível Social, que determina que a maior parte da produção de biodiesel deve beneficiar a agricultura familiar. Os critérios foram ampliados ano passado, dado que mais de 70% da produção é feita com óleo de soja, cultura de grandes produtores. O ministro do MME, Alexandre Silveira (PSD), afirmou um mês após a suspensão que a decisão do CNPE foi importante para não eldquo;comprometer a indústria localerdquo; do biocombustível e gerar uma eldquo;instabilidade nos investidoreserdquo;. Em razão dos preços do óleo vegetal, que impactam o custo do biocombustível, e embalado por uma discussão sobre fraudes na mistura obrigatória, o CNPE determinou na semana passada que a mistura fique mantida em 14%, revertendo o aumento previsto para 15%, em 1º de março. Segundo o governo, o GT tem por objetivo avaliar: Efeitos da importação de biodiesel no mercado nacional; A alíquota de importação; A manutenção do Selo Biocombustível Social, que prioriza produtores locais; O resultados do novo modelo de comercialização do biodiesel, em vigor desde janeiro de 2022; A garantia de oferta regular de biodiesel com menor impacto nas cadeias produtivas regionais, especialmente na agricultura familiar. O grupo reúne representantes da Casa Civil, dos ministérios de Minas e Energia (MME), Meio Ambiente (MMA), Fazenda (MF), Agricultura (Mapa), Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), além da Agência Nacional do Petróleo Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e da Empresa de Pesquisa Energética (EPE).

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Preço do etanol hidratado cai depois de nove semanas de alta

Depois de subir por nove semanas seguidas, o preço do etanol hidratado cedeu no mercado spot do estado de São Paulo, informa o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Esalq/USP. A pressão veio do enfraquecimento da demanda por parte de distribuidoras e da necessidade de venda de algumas usinas, diante da proximidade do balanço do ano-safra. Nem mesmo a chegada do recesso de carnaval elevou a procura. Entre 17 e 21 de fevereiro, o indicador Cepea/Esalq do etanol hidratado fechou em R$ 2,8503 por litro (líquido de ICMS e PIS/Cofins), ligeira queda de 0,13% frente ao período anterior. Para o anidro, o indicador foi de R$ 3,1780 por litro, recuo de 2,53% no mesmo comparativo.

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Trump ameaça etanol brasileiro com tarifas: quais os impactos

O Brasil voltou ao centro das atenções comerciais do presidente norte-americano Donald Trump, que critica as tarifas de importação aplicadas pelo país. Segundo o Banco Mundial, as taxas gerais brasileiras são, em média, cinco vezes superiores às praticadas pelos Estados Unidos. O etanol, em particular, tornou-se alvo dessas críticas. "A tarifa dos EUA sobre o etanol é de apenas 2,5%, enquanto o Brasil impõe uma tarifa de 18% sobre o biocombustível americano. Como resultado, em 2024 os EUA importaram mais de US$ 200 milhões em etanol do Brasil, mas exportaram apenas US$ 52 milhões em etanol para o Brasil", afirmou Trump em documento divulgado no dia 13, após anunciar um memorando sobre a possibilidade de adoção de tarifas recíprocas para permitir um comércio mais justo entre os países. Estados Unidos quase não geram excedentes de etanol O estabelecimento de tarifas adicionais para o etanol brasileiro pode afetar mais os americanos do que os brasileiros, diz a coordenadora de análise de mercado da Hedgepoint Global Markets, Lívea Coda. Segundo ela, a produção americana mal atende à demanda. Um aumento na taxação também pode ter impactos nos preços ao consumidor por lá, justamente no momento em que estão voltando com mais força as preocupações com a inflação nos Estados Unidos. A Renewable Fuels Association (RFA), uma das principais entidades representativas da indústria do etanol nos EUA, aponta que a produção em novembro foi de 17,9 milhões de litros por dia, enquanto a demanda, de 17,3 milhões. Os estoques disponíveis eram suficientes para 21,2 dias. A produção total entre dezembro de 2023 e novembro de 2024 foi de 61,5 bilhões de litros. Segundo a União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Única), no ano passado o Brasil produziu 36,6 bilhões de litros de etanol, dos quais 1,9 bilhão (5,4% do total) foram vendidos para o exterior. Entre essas exportações, 313 milhões de litros (menos de 1% da produção brasileira) tiveram como destino os Estados Unidos. A analista estima que essa parcela da produção brasileira pode ser redirecionada para uso doméstico. O aumento da proporção de etanol anidro na gasolina endash; previsto na Lei do Combustível do Futuro e que pode passar de 27% a 30% a partir de abril endash; é um dos fatores que ajudaria a absorver parte do excedente gerado por uma eventual restrição americana. O uso do etanol combustível está em alta no país. A receita das vendas cresceu 33,4% no ano passado, segundo a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), enquanto a de gasolina caiu 4%. Os volumes de etanol negociados pelas usinas registram níveis elevados neste início de ano. Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/USP), as vendas do tipo hidratado em janeiro foram as maiores desde novembro de 2020. Os preços, tanto do anidro quanto do hidratado, continuam a subir nas primeiras semanas de fevereiro em São Paulo, o maior produtor, refletindo a entressafra e a alta demanda. Importações de etanol dos Estados Unidos perdem espaço para as do Mercosul Apesar da posição dos Estados Unidos como segundo maior parceiro comercial do Brasil para biocombustíveis, o país tem perdido relevância nos negócios. Há dez anos os EUA eram o principal destino do etanol brasileiro no exterior, comprando quase a metade do total exportado (49,7%). No ano passado, foi o segundo maior, com 16,3% do total. A parceria nas importações também perdeu força nesses dez anos. Em 2015, os Estados Unidos forneciam 97% do etanol comprado pelo Brasil lá fora. No ano passado, a fatia caiu a 56,7%. Quem vem ganhando força nesse mercado são o Paraguai, com 31,3% do mercado, e a Argentina, com 10,3%. Possíveis tarifas de Trump ao etanol brasileiro são estratégia para proteger americanos Uma das estratégias de Trump é buscar proteger a indústria doméstica norte-americana de etanol. "Não é a primeira vez que vemos medidas como essa; trata-se de um movimento estratégico com outras intenções", analisa Heloisa Burnquist, professora da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP) e pesquisadora do Cepea. A possibilidade do estabelecimento de sobretaxas ao produto brasileiro poderá entrar em vigor em abril. No dia 13, Trump instruiu sua equipe econômica a calcular novas tarifas de importação, baseadas em impostos, taxas regulatórias e barreiras enfrentadas por produtos norte-americanos no exterior. A estratégia, chamada de "tarifas de reciprocidade", será definida país a país. A Unica lamentou essa possibilidade. eldquo;A medida pretende colocar no mesmo patamar o etanol produzido no Brasil e nos Estados Unidos, embora possuam atributos ambientais e potencial de descarbonização diferentes, e, portanto, não faz sentido falar em reciprocidade", disse a associação, em nota. "Se a medida se confirmar, será mais um passo dos Estados Unidos rumo ao abandono à rota de combate à mudança do clima. Esperamos que os estados americanos e a indústria local, comprometidos com o combate à mudança do clima, trabalhem para impedir esse retrocesso proposto pelo governoerdquo;, acrescentou. Esse não seria o primeiro movimento protecionista no setor, lembra o economista-chefe da G5 Partners, Luiz Otávio Leal. No mandato anterior, Trump reduziu a cota de importação de etanol brasileiro isento de tarifa, taxando quase toda a exportação em 20%. O Brasil retaliou de forma similar. "Como resultado, o comércio bilateral desse biocombustível, antes pujante, se tornou insignificante desde então", disse. As tarifas também são ferramenta de pressão da política comercial de Trump, visando acordos mais favoráveis aos EUA. Levantamento feito pela Câmara Americana de Comércio (Amcham Brasil) aponta que entre 2014 e 2023 os Estados Unidos tiveram um superávit acumulado de R$ 263,1 bilhões nas relações comerciais com o Brasil. Em 2024, o saldo positivo foi de US$ 7,3 bilhões, o sétimo maior entre os parceiros comerciais americanos. Segundo a Amcham, a tarifa média nominal brasileira é de 12,4%, mas quase metade (48%) das exportações americanas ao Brasil ingressa sem tarifas. Outros 15% estão sujeitos a alíquotas de até 2%.

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