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Petrobras: Pietro Mendes é reeleito para presidir o conselho de administração

Os acionistas da Petrobras reunidos em assembleia-geral, nesta quarta-feira, 16, reconduziram o secretário de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis do Ministério de Minas e Energia, Pietro Mendes, à presidência do conselho de administração, como era previsto, conforme antecipou o Estadão/Broadcast. O conselho de administração da estatal ganhou um novo membro: o engenheiro e empresário José Fernando Coura, indicado pela União para a vaga deixada por Vitor Saback, ex-secretário do Ministério de Minas e Energia (MME) que deixou o governo e o Conselho da estatal para assumir a presidência da companhia produtora de cobre Paranapanema. Coura foi eleito com 5,269 bilhões de votos, alocados pela União no processo por voto múltiplo, o número mínimo para garantir a cadeira. Com votos do governo também foram reconduzidos Mendes, reeleito para presidir o colegiado; a presidente da companhia, Magda Chambriard, que ocupa assento no colegiado; o advogado Renato Galuppo; o advogado Rafael Dubeux, secretário do Ministério da Fazenda; e o economista Bruno Moretti, secretário da Casa Civil. Conforme apurou o Estadão/Broadcast, Coura foi indicado ao Conselho da Petrobras pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira. Na prática, sua entrada no colegiado preserva a relação de forças entre indicados pelo governo. Silveira indicou Coura, Galuppo e Mendes, enquanto a Fazenda indicou Dubeu, e a Casa Civil, Moretti. Moretti foi eleito com 3,973 bilhões de votos, menos do que o mínimo necessário, mas o suficiente para superar qualquer outro candidato. Também indicados pela União, Benjamin Rabello Filho e Yvanira Correia não receberam votos da União e ficaram fora do conselho. Seus nomes foram enviados à companhia pelo terceiro ano seguido, mas, na prática, com um caráter de reserva dentro da estratégia do governo. De sua parte, os acionistas privados elegeram o investidor Juca Abdalla e o contador Aloísio Macário Ferreira de Souza, que completam as oito das 11 cadeiras em jogo. Ambos já haviam sido confirmados por terem obtido mais de 7 bilhões de votos via Boletim de Voto à Distância (BDV), mas ainda ampliaram sua votação com os votos sufragados no momento da assembleia. Juca Abdalla obteve, finalmente, 9,291 bilhões de votos e Macário, 7,558 bilhões. O mínimo necessário nesta eleição para ocupar uma vaga no Conselho da estatal era de 5,269 bilhões de votos, marca superada por ambos. Com quase 3% do capital acionário da Petrobras, Abdalla tem votos suficientes para eleger a si mesmo e mais um conselheiro emdash; neste caso, Macário, indicado pelo Fundo de Investimentos em Ações Dinâmica, controlado por seu Banco Clássico. Nesta eleição ao conselho da Petrobras, oito das 11 cadeiras estavam em aberto para votação por voto múltiplo. Com dois assentos já conquistados por acionistas privados, restam seis cadeiras, a serem preenchidas pela União ainda nesta tarde. A representante dos trabalhadores, Rosângela Buzanelli, e os eleitos em separado pelos acionistas ordinaristas e preferencialistas, Francisco Petros e Jeronimo Antunes, permanecem em seus cargos no Conselho, por terem sido eleitos por fora do voto múltiplo. Nesse mecanismo, que multiplica o número de votos pelo número de candidatos, permitindo livre alocação, uma renúncia levou, automaticamente, a uma nova eleição para essas cadeiras emdash; a do advogado e ex-conselheiro, Marcelo Gasparino, que deixou o Conselho da Petrobras em março. Distribuição de dividendos A Petrobras reiterou, em comunicado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que pagará nos dias 20 de maio e 20 de junho as parcelas relativas à proposta de dividendos adicionais de R$ 9.145.138.735,08, conforme anunciado em 26 de fevereiro e aprovado na assembleia. A primeira parcela de proventos (R$ 0,36769707 por ação ordinária e preferencial) será paga em 20 de maio. Já a segunda parcela (R$ 0,36769708) será paga em 20 de junho, ambas sob a forma de dividendos, totalizando R$ 0,73539415 por ação. Os detentores de ADRs da companhia, por sua vez, receberão os pagamentos a partir de 28 de maio de 2025 e de 27 de junho de 2025, respectivamente, conforme indicou a companhia. Será considerada a posição acionária desta quarta-feira, 16, para as ações negociadas na B3 e 22 de abril para os ADRS. As ações da Petrobras serão negociadas ex-direitos na B3 a partir desta quinta-feira, 17. A remuneração aos acionistas da Petrobras relativa a 2024 somou R$ 73,905 bilhões, representando R$ 5,73413520 por ação ordinária e preferencial em circulação. Esse valor inclui as antecipações aprovadas ao longo de 2024 e pagas até março de 2025 de R$ 64,760 bilhões e a proposta de dividendos adicionais de R$ 9,145 bilhões, disse a companhia no comunicado.

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Magda diz querer evitar trazer guerra comercial para preços: 'Confusão que não é nossa'

A presidente da Petrobras, Magda Chambriard, afirmou nesta quarta-feira, 16, que a empresa não avalia apenas a cotação do dólar e do Brent para decidir sobre um eventual reajuste no preço dos combustíveis, mas também analisa o produto e o impacto do market share. Magda repetiu que não quer trazer para o mercado interno eldquo;uma confusão que não é nossaerdquo;, referindo-se à guerra comercial entre Estados Unidos e China que está impactando o preço do petróleo no mercado internacional. Na terça, ao Estadão/Broadcast, Magda disse que já estava na hora de olhar novamente o comportamento dos preços, já que o último ajuste do diesel foi no dia 1º de abril. eldquo;Os preços dos combustíveis fazem parte do dia a dia, olhamos de 15 em 15 dias. Nem os conselheiros privados, nem os governamentais reclamam dissoerdquo;, afirmou Magda após evento na Coppe/UFRJ, onde assinou termo de cooperação para construção do Loop de Garantia de Escoamento. Margem Equatorial A presidente da Petrobras disse que se considera eldquo;otimistaerdquo; em relação à concessão de licença ambiental pelo Ibama para explorar a Margem Equatorial brasileira. Sem querer indicar um prazo para o documento, que é aguardado há anos, a executiva se limitou a dizer que a estatal eldquo;entregou tudo o que o Ibama desenhouerdquo;. eldquo;Precisamos que o Ibama faça a fiscalização e agende o teste pré-operacionalerdquo;, disse. Ao ser questionada se estaria olhando os quatro setores na bacia da Foz do Amazonas que serão leiloados pelo governo em 17 de junho, uma das cinco bacias da Margem Equatorial brasileira, Magda se limitou a dizer eldquo;que está olhando todas as áreas ofertadaserdquo;, e que não poderia falar especificamente sobre um delas.

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Petronas vende sua fatia de 50% em campo petrolífero de Vaca Muerta

A Vista Energy, segunda maior produtora de petróleo bruto na promissora formação de xisto Vaca Muerta, na Argentina, comprou a participação de 50% da Petronas em um campo petrolífero da região por cerca de US$ 1,5 bilhão, cerca de R$ 8,8 bilhões. A Vista pagará US$ 900 milhões em dinheiro agora pela aquisição na área de La Amarga Chica da bacia, sendo um terço financiado com um empréstimo bancário do Banco Santander. A Petronas, petroleira que tem origem na Malásia, também receberá cerca de 7% das ações da Vista, avaliadas em aproximadamente US$ 300 milhões. O valor restante será pago em duas parcelas, em 2029 e 2030. A produtora argentina de petróleo está eldquo;adicionando um bloco de alta qualidade a um preço atrativoerdquo;, disseram analistas do Jefferies em nota a investidores. Eles reiteraram a recomendação de compra das ações da Vista, que encerraram o dia de negociações em Nova York com alta de quase 11% emdash; o maior salto desde novembro de 2023, quando o presidente libertário Javier Milei foi eleito. O acordo praticamente consolida a saída da malaia Petronas da Argentina, após a empresa ter se retirado de um projeto de gás natural liquefeito com a estatal YPF SA. É também mais um sinal de que o desenvolvimento da Vaca Muerta será, cada vez mais, liderado por empresas locais, em vez de multinacionais: a Exxon Mobil Corp. vendeu seu portfólio de petróleo de xisto na Argentina no ano passado, e a TotalEnergies SE está avaliando fazer o mesmo. La Amarga Chica tem custos de produção mais baixos do que o portfólio atual da Vista e fica ao lado de seu principal campo, Bajada de Palo Oeste, o que pode gerar eldquo;sinergias significativaserdquo;, escreveram os analistas. A YPF, que detém os outros 50% de La Amarga Chica, continuará como operadora do campo. Petróleo em queda preocupa Os acionistas da Vista emdash; fundada por Miguel Galuccio, membro do conselho da SLB, que atraiu a Petronas para o campo há uma década, quando presidia a YPF emdash; deram sinal verde à direção da empresa no mês passado para buscar uma aquisição e financiá-la com dívida ou emissão de ações. A Vista está expandindo suas operações em um momento de incerteza para a indústria global de petróleo, com os preços em queda em meio à guerra comercial liderada por Donald Trump. Galuccio alertou há algumas semanas que a gestão poderia considerar cortes no orçamento caso o petróleo leve Medanito, produzido em Vaca Muerta e que segue de perto a cotação do Brent, caísse abaixo de US$ 55. Por outro lado, há ventos favoráveis para o xisto argentino, já que Milei afrouxou nesta semana os controles cambiais que há muito tempo inibiam os investimentos, e a construção de oleodutos avança. O acordo proporcionará um crescimento rápido à argentina Vista. Antes da aquisição, a empresa tinha como meta alcançar uma produção diária de até 100 mil barris ainda este ano, ante 70 mil em 2024, por meio de um plano de investimento superior a US$ 1 bilhão. Com La Amarga Chica, a produção recebe imediatamente um incremento de 40 mil barris, exigindo aumento dos investimentos de capital.

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Petrobras elege novo conselho e confirma R$ 9,1 bi em dividendos propostos em fevereiro

A Petrobras elegeu nesta quarta-feira (16) oito membros para seu conselho de administração, com apenas uma mudança em relação ao grupo atual: a substituição do ex-secretário de Geologia e Mineração do MME (Ministério de Minas e Energia) Vitor Saback pelo engenheiro Fernando Coura. A assembleia referendou ainda proposta da companhia para distribuir R$ 9,1 bilhões em dividendos aprovada pelo conselho de administração em fevereiro. Com esse valor, a remuneração ao acionista referente ao resultado de 2024 somou R$ 73,9 bilhões, informou a estatal. A eleição foi provocada pela renúncia de Marcelo Gasparino, um ex-conselheiro indicado por investidores privados, em março. Gasparino alegou que precisava sair para cumprir novas restrições impostas a conselheiros da Eletrobras, cargo que também ocupa. O conselho de administração da Petrobras tem 11 cadeiras, mas três delas são eleitas em separado e, por isso, não foram afetadas pela decisão de Gasparino. São dois representantes de minoritários, Francisco Petros e Jerônimo Antunes, e a representante dos trabalhadores, Rosângela Buzanelli. Nesta quarta, o governo elegeu seis de seus oito candidatos, como vem ocorrendo desde 2022, quando minoritários conseguiram vencer em assembleia a disputa por duas das oito vagas não destinadas a representantes de grupos específicos. Cinco dos indicados pelo governo já pertencem ao conselho atual: a presidente da Petrobras, Magda Chambriard; os secretários do MME Pietro Mendes, da Casa Civil, Bruno Moretti, e da Fazenda, Rafael Dubeaux; e o advogado Renato Galuppo. Protegido do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, Mendes foi reeleito para presidir o conselho. Ele é indicado do governo a uma diretoria da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis), mas sua nomeação depende de aval do Senado. O sexto conselheiro do governo, Fernando Coura, teve que se desligar de funções na Fiemg (Federação das Indústrias de Minas Gerais) e no Sindicato da Indústria Mineral do Estado de Minas Geral para eliminar restrições à sua nomeação feitas por comitê interno que avalia as indicações. As duas vagas restantes ficaram com o banqueiro Juca Abdalla e com Aloisio Macário Ferreira de Souza, que também já estão no conselho. Abdalla é o maior acionista individual da Petrobras e está no conselho de administração desde 2022. Ele foi um dos responsáveis pela ofensiva do mercado sobre cadeiras da União no colegiado. Em 2021, ajudou a eleger Gasparino como o primeiro conselheiro não indicado do governo a ocupar uma dessas oito vagas. Em 2022, foi eleito para a segunda cadeira. Nesta quarta, confirmou sua recondução com quase o dobro dos votos mínimos para a eleição. Reconhecido como um investidor recluso, Abdalla tem feito manifestações nas assembleias da Petrobras. Em 2024, defendeu a permanência do ex-presidente da companhia Jean Paul Prates, demitido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) cerca de um mês depois. Nesta quarta, pediu a fala para um afago no presidente da assembleia, o advogado Francisco Costa e Silva. "Como maior acionista da Petrobras, quero dizer que é uma honra ter o senhor novamente como presidente dessa assembleia", disse. Mais uma vez, sua indicação recebeu ressalvas do comitê interno por ser administrador de empresas que prestam serviços ou concorrem com a Petrobras. O comitê, porém, deixou a decisão nas mãos dos acionistas, que garantiram votos suficientes para sua eleição.

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Setor de óleo e gás no Brasil tem déficit de ao menos 5,1 mil técnicos, diz Abespetro

Aquecido pela demanda da Petrobras no pré-sal e prejudicado por um hiato de quase dez anos na formação coordenada de mão de obra, o setor de óleo e gás offshore (em alto-mar) brasileiro tem um déficit de pelo menos 5,1 mil técnicos de nível médio hoje. O levantamento é da Associação Brasileira das Empresas de Bens e Serviços de Petróleo (Abespetro) em 30 empresas, entre fornecedores e petroleiras. Segundo o presidente executivo da entidade, Telmo Ghiorzi, o número traduz uma eldquo;demanda mínimaerdquo; do setor, visto que o universo de empresas é maior do que o pesquisado e, também, não entraram na conta a falta de profissionais de nível superior nem daqueles que exercem as chamadas atividades meio e administrativas em terra. eldquo;Na verdade, o déficit do momento é bem maior do que este e pode subir consideravelmente já em 2026 e 2027, com novos projetos, por exemplo, na Margem Equatorialerdquo;, diz Ghiorzi, considerando um cenário de liberação do Ibama para que a Petrobras atue na exploração de petróleo no litoral do Amapá. Ghiorzi lista outros vetores de demanda por mão de obra no setor, como processos de revitalização de campos maduros por petroleiras independentes. Foram coletadas informações sobre a demanda de 145 ocupações de nível técnico, entre as quais se destacam as dez profissões consideradas eldquo;mais críticaserdquo;, que totalizam 2,1 mil vagas ou 42% dos 5,1 mil profissionais a serem contratados. As dez ocupações são, em ordem de importância: soldador, caldeireiro, mecânico, pintor industrial, marinheiro de convés, ajudante, eletricista marítimo, operador de guindaste, operador de produção e técnico em segurança do trabalho. Solução Como saída para esse gargalo de mão de obra, a entidade aponta a retomada do Programa de Recursos Humanos da Agência Nacional do Petróleo (PRH-ANP) para nível médio, prestes a sair do papel sob a supervisão da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Para Ghiorzi, a volta do programa é um passo importante para a resolução do problema. A formação de um profissional técnico especializado leva de 1 a 2 anos. Por isso, ele argumenta que a escassez de profissionais pode ter redução relevante a médio prazo. Vai nesse sentido uma das iniciativas de modernização do PRH: a criação de um eldquo;Comitê da Indústriaerdquo; com o papel de apoiar o alinhamento da formação de pessoal do programa às demandas reais do mercado. A Abespetro integra o comitê. Hiato de formação O vice-presidente da Abespetro, Breno Medeiros, diz que, para além da maior demanda por profissionais, ligada à profusão de novos projetos, houve uma interrupção na formação, com a paralisação do Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural (Prominp) em 2019. O programa, que tinha comitê gestor ligado ao governo, mas era operacionalizado pela Petrobras, surgiu em 2004 e substituiu o PRH da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), mas também parou em 2016. eldquo;De lá para cá, foram quase dez anos sem uma formação coordenada de mão de obra especializadaerdquo;, diz Medeiros. A Abespetro aponta a desidratação do programa como consequência de cinco anos sem rodadas de licitações da ANP, entre 2008 e 2013, seguida da queda abrupta dos preços internacionais do petróleo em 2014. Colaborou para o cenário a operação Lava-jato, que travou investimentos do governo. Cenário A pesquisa da Abespetro mostra que a empregabilidade no setor de óleo e gás brasileiro vem se recuperando nos últimos anos. Em 2023, eram 616 mil empregados e, até 2029, o contingente pode chegar a 911 mil pessoas trabalhando no setor, se confirmadas iniciativas como a exploração da Margem Equatorial, diz a entidade. Em 2024, mostra a pesquisa, o salário médio de admissão real para ocupações de nível técnico para o setor de óleo e gás foi de R$ 4.617, com valores variando entre R$ 1.988,00 (plataformista) e R$ 12.462,00 (imediato), segundo dados fornecidos pela gerência de Estudos Econômicos da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan). Os salários das cinco ocupações mais críticas, diz a Abespetro, variam entre R$ 2.490,00 (Marinheiro de Convés) e R$ 3.429,00 (Mecânico). Entre 2022 e 2024, a média salarial do setor de Peamp;G naval registrou aumento de 12%, o que pode sinalizar aquecimento do mercado de trabalho, em especial para o nível técnico no setor de óleo e gás.

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'Se continuar a expandir combustíveis fósseis, o Brasil perderá seu lugar no mundo', diz Unterstell

O Brasil sediará o principal evento anual de debate sobre o meio ambiente e a crise climática em 2025, ao receber a COP-30 em Belém. Para a presidente do Instituto Talanoa e especialista em políticas públicas e mudança do clima Natalie Unterstell, a novidade da experiência fica por conta das conversas ocorrerem no País dela, já que esteve presente em outras edições anteriormente emdash; a primeira foi na COP-15, em Copenhague, na Dinamarca, em 2009. Na avaliação de Unterstell, contrária à tese de que combustíveis fósseis podem financiar a transição energética, o Brasil corre o risco de eldquo;perder o seu lugar no mundoerdquo;, caso avance uma política de expansão de petróleo, por exemplo. Em entrevista ao Estadão, além da organização da COP, Unterstell fala sobre questões ambientais como a resiliência das cidades, a importância de adaptação e mitigação dos impactos e a exploração de petróleo na Margem Equatorial. Confira os principais trechos. Você acredita que a organização da COP até esse momento tem sido satisfatória? A gente tem uma certa coreografia das COPs, que podemos comparar com as dos anos anteriores. Por exemplo, o anúncio da presidência já foi feito. Então, a gente está mais ou menos na coreografia habitual. É óbvio que a gente gostaria de ter muitos mais detalhes prontos né? A ansiedade é muito grande. Um ponto de atenção é esse da logística, que está causando preocupações, principalmente porque há aí uma onda de preços abusivos sendo praticadas no mercado. As duas COPs anteriores ocorreram em países que têm economia baseada em extração de combustíveis fósseis (Emirados Árabes Unidos e Azerbaijão). O que o Brasil pode mostrar de diferente para avançar nesse debate sobre energia? O Brasil também é um país que tem a questão da exploração de combustíveis fósseis, é algo muito importante para nossa economia. Então, a gente não pode se considerar muito diferente dos países anteriores, assim não mencionaria apenas os últimos dois, colocaria também o Reino Unido, que hospedou em 2021. O Brasil tem de chegar com sinais políticos claros de quando começa essa transição e quando é que a gente quer completá-la, porque o mandato acordado por todo mundo em Dubai é a saída dos combustíveis fósseis, então é disso que a gente tem que tratar. Agora é uma questão de cronograma, e o Brasil tem essa grande oportunidade de dar esse sinal. Ouve-se dizer muito que o Brasil já tem uma matriz energética limpa ou que já avançou mais do que os outros países, por ter primariamente hidrelétrica. O que falta avançar nesse caminho? O que nos puxa para trás? É verdade que estamos muito à frente dos outros nas renováveis, só que nessa altura não temos que correr olhando para trás, a gente tem de correr olhando para frente. Para onde que é essa frente? É completar a transição, saída total. O Brasil tem de olhar para a chegada. Se hoje a nossa matriz elétrica é entre 80 e 90% renovável, a gente tem de mirar no 100%. Aqui tem duas preocupações. Uma delas é: a nossa matriz é muito dependente das hidrelétricas, e o que está acontecendo com as hidrelétricas? As do Norte do País não estão conseguindo produzir aquilo que normalmente produziam, basta ver Belo Monte, porque o regime de chuvas está alterado por causa da mudança do clima. Então, se a gente não adaptar o nosso sistema, vai continuar eldquo;fossilizandoerdquo; a matriz, colocando mais térmica, a carvão ou a gás. Tem uma pressão aí nesse sentido, e aí em vez da gente ir dos 80% para os 100%, a gente pode inclusive andar para trás. Em segundo lugar, lembrar que nós já vivemos num mundo mais quente, de clima mais instável, logo, se a gente não se adapta corretamente, podemos inclusive deixar de ser o país que se orgulha da sua matriz de energia para ser um país que lamenta. Eventos recentes como as ondas de calor ou as enchentes deveriam acender um sinal de alerta mais urgente para a questão da resiliência das cidades? Sem dúvida, o planeta já aqueceu, já está posto que a gente vai ter de mudar. Não o futuro, temos de mudar o presente, e acho que isso é óbvio, mas é tão óbvio que algumas figuras, na sociedade, na população, talvez não queiram enxergar. A gente não pode normalizar essas questões de forma alguma. Qual é a importância de ter essa COP em Belém? Segundo o Censo de 2022, mais da metade da população mora em favelas. Por que a gente precisa de uma COP? Porque a gente tem um problema global, e ninguém consegue resolver sozinho, não adianta o Brasil ter boa vontade e os Estados Unidos não quererem fazer nada. A gente precisa de cooperação, e aí a COP é, literalmente, uma reunião em que o mundo todo se une para falar sobre o ponto em que estamos dessa crise, o que a gente pode fazer, o que a gente quer fazer para tentar resolvê-la. Cada país, cada sociedade vai dar a resposta que puder dentro do seu território. Não tem um debate sobre a cidade, o rural, a floresta, é muito difuso. Por outro lado, tem a questão de que Belém e Amazônia são o pano de fundo dessa COP. Sem dúvida, se fosse uma COP na Antártida, seria um outro pano de fundo. Já escutamos o próprio presidente da COP falar que o Brasil não escolheu São Paulo, nem Rio de Janeiro, que são as cidades mais ricas, para fazer essa COP, embora ricas com muitos problemas. Escolheu Belém com tudo que vem no pacote, com a falta de infraestrutura, e também com a beleza. É possível fazer a transição energética sem contar com o financiamento que vem das fontes fósseis? Hoje tem um principal fator que atrapalha a transição e não é o financiamento, é o subsídio aos combustíveis fósseis. Então, mesmo que se coloque bastante dinheiro na economia de baixo carbono, que já está acontecendo, o fato da gente manter US$ 7 trilhões de subsídio para combustíveis fósseis segundo o FMI, para manter uma máquina girando que é imbatível. Então, a primeira fonte que coisa está sendo discutida é justamente a reforma dos subsídios, que é algo que o G-20 já se comprometeu a fazer, o próprio Brasil já aderiu lá atrás. Senão, fica essa coisa de que precisamos investir no petróleo para poder usar o recurso para fazer a economia da transição. Não faz sentido algum, quando na verdade estamos dando recurso para o petróleo se sustentar. Essa tese de que a gente tem que fazer exploração de combustíveis fósseis para poder fazer a nossa transição talvez sirva para outro país; para o caso do Brasil, não. Primeiro, tem que se usar todas as fontes possíveis, públicas e privadas, multilaterais, as nacionais, a gente tem que usar o nosso orçamento de forma estratégica também. Se a gente adotar o princípio de eldquo;quem polui pagaerdquo;, como no mercado de carbono, tenho certeza de que conseguiríamos acelerar a transição, do mundo todo, com bastante força. No debate das COPs sempre há a questão do financiamento dos países ricos para os países pobres, que demorou a sair do papel. Você acredita que esse debate vai avançar? A gente tinha uma meta de US$ 100 bilhões, demorou para que se alcançasse isso. Agora o dinheiro está fluindo. A questão não é não haver esse recurso, mas sim se é suficiente. A gente precisa de mais. A pergunta é se isso vai avançar na COP-30. A nossa expectativa é de que haja um avanço substantivo no financiamento da adaptação. É muito mais difícil financiar, porque, em geral, requer muito recurso público. Se a gente não conseguir, especialmente os países em desenvolvimento de baixa renda, que precisam desse capital mais livre para poder fazer algumas reformas e poderem se organizar internamente, eles não necessariamente têm recursos. E também reclamam muito dos endividamentos, porque estão cada vez mais endividados, a mudança do clima está forçando mais gastos para adaptação e reconstrução. Então tem aí uma agenda muito importante na COP-30 do financiamento da adaptação. Você tem expectativa de que algum acordo que avance significativamente um tema seja realizado na COP? A minha principal expectativa é por um pacote ambicioso de adaptação nessa COP, com pelo menos cinco decisões que tocam a temática da adaptação, e essa é uma oportunidade única inclusive para o Brasil deixar esse legado. Outra expectativa igualmente importante, porque sem ela não adianta a gente avançar nos demais temas, é de que a gente consiga melhorar nessa questão da mitigação. Até o momento foram apresentados muito poucos planos nacionais, as chamadas NDCs. Estamos num patamar muito baixo agora, precisamos de mais ambição. Eu realmente espero que seja uma COP da virada, em que a gente consiga focar realmente na implementação do Acordo de Paris e avançar. Temos uma grande oportunidade no Brasil de construir, enfim, um pacote ambicioso de decisões para esse tema, isso seria um enorme legado. Também pode responder aos anseios das populações que estão nas cidades, que estão nas periferias, e estão experimentando o pior da mudança do clima. Pode ser um resultado muito concreto, muito real. Por exemplo, o financiamento dos países ricos aos países pobres: atingiu a meta anual de US$100 bilhões. No ano passado decidiu-se que isso passaria para US$300 bilhões, até 2035. Na COP de Belém, o Brasil tem a chance de apresentar um roteiro, um mapa, não para US$300 bilhões, mas para US$1,3 trilhão de dólares do financiamento público e privado. A conversa é: quais são as fontes? Será que a gente consegue incluir os poluidores como pagadores? Essa é a discussão desse ano e que o Brasil tem que apresentar uma proposta em Belém junto com o Azerbaijão (sede da COP anterior). O que é exatamente a adaptação e qual é a importância dela? Adaptação é qual ajuste você faz para algo que funcionou no clima anterior poder funcionar no novo clima, no planeta mais quente. Há vários tipos de projetos. Vou mencionar, porque eu citei antes, a questão da energia, das hidrelétricas. Elas hoje, a depender de onde estão, por exemplo, no norte do País, estão produzindo menos, porque chove menos. Aí você tem diferentes medidas de adaptação, por exemplo, uma delas é fazer com que os reservatórios dessas hidrelétricas tenham um bom nível de conservação, usar o próprio reservatório como uma bateria do sistema. Então, você tem adaptações que são de infraestrutura, de larga escala, até coisas muito práticas e diretas. Por exemplo, nas ondas de calor, qual é a adaptação que as escolas têm que fazer? Elas todas vão ter ar-condicionado, as crianças vão fazer educação física nesse calor? No caso do Rio, a cidade colocou estações de água para a população se refrescar, eles têm dado alertas constantes, isso também é adaptação. Qual é a diferença entre adaptação e mitigação? Na realidade, hoje a gente não tem mais que separar. Tradicionalmente, mitigação é o que a gente tem que fazer para atacar as causas da mudança do clima, ou seja, redução de emissões. E adaptação é lidar com as consequências, com calor, lidar com eventos extremos. Por muito tempo, parecia que você faria uma coisa ou outra, só que hoje não existe mais isso, é um só problema. Se você não investir em adaptação, não conseguirá manter sua renovabilidade. E, da mesma forma, se a gente não mitiga, se a gente não reduz emissão, não vai ter como adaptar, a adaptação tem um limite. Elas são inseparáveis. Você acredita que o tema ambiental está presente para a maioria da população brasileira atualmente? Os brasileiros estão sofrendo, vivendo os dramas climáticos na pele, no bolso, no cotidiano. São as populações especialmente pretas e pardas que estão sofrendo mais, estão mais expostas à maioria dos riscos climáticos. A gente já está pagando mais caro na conta de luz já por causa da crise climática. Você anda na cidade hoje e não sabe se vai conseguir voltar para casa, porque pode inundar, você não sabe se vai aguentar o calor. Há uma pesquisa da Quaest sobre o caso do Rio Grande do Sul, em que 99% da população associou a tragédia das chuvas à mudança do clima, então praticamente não precisamos convencer ninguém de que o problema existe e precisa ser tratado. Mas temos um desafio agora, que é como a gente quer tratar. Queremos deixar para os governos resolverem isso? Achamos que o setor privado vai resolver sozinho? Eu não acho que nenhum nem outro. Como podemos lidar com políticos que hoje em dia não acreditam na crise climática e agem em prol dos combustíveis fósseis? Não vejo nada de novo nisso, essa é a realidade que está por vir desde sempre. Acho que agora talvez a gente nunca tenha tido tantos eleitores que sabem o que querem, e que sabem que se, por exemplo, no Brasil continuar existindo uma política de expansão de combustíveis fósseis, a gente vai perder inclusive o lugar no mundo. O momento nos impele a lidar com isso de outra forma e pedir para que a política seja climática.

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